segunda-feira, 6 de junho de 2011

Pré-Modernismo

CARACTERÍSTICAS
   O  Pré-Modernismo  é  um  movimento  literário  tipicamente brasileiro.  Convencionou-se  chamar  de Pré-Modernismo  o  período anterior à Semana de Arte Moderna de 1922.
   Didaticamente, esse movimento literário tem início em 1902 com a  publicação  do  livro  Os  Sertões,  de  Euclides  da  Cunha  e  com  a publicação do  livro Canaã de Graça Aranha. O  Pré-Modernismo é um período  de  transição,  pois  ao mesmo  tempo  em  que  encontrávamos produções  conservadoras  como as poesias parnasianas e  simbolistas, encontrávamos  as  primeiras  produções  de  caráter  mais  moderno, preocupadas com a realidade brasileira da época.
Principais características do Pré-Modernismo brasileiro:
  • Ruptura com o passado
  • Denúncia da realidade
  • Regionalismo
  • Tipos humanos marginalizados
Ruptura com o passado = As novas produções rompem com o academismo e com os modelos preestabelecidos pelas antigas estéticas.
Denúncia da realidade = A  realidade não oficial passa a ser a temática do período.
Regionalismo = São  retratados o sertão nordestino, o  interior paulista, os subúrbios cariocas, entre outras regiões brasileiras.
Tipos humanos marginalizados  =  Nas  obras  desse  período, encontram-se retratadas muitas figuras marginalizadas pela elite, como o sertanejo nordestino, o caipira, o mulato, entre outros tipos.

Principais autores do Pré-Modernismo brasileiro:
  • Euclides da Cunha
  • Lima Barreto
  • Monteiro Lobato
  • Graça Aranha
  • Augusto dos Anjos *
Euclides  da  Cunha  =  retratou  a miséria  do  subdesenvolvido nordeste do país.
Lima Barreto = retratou a vida carioca urbana e suburbana do início do século XX.
Monteiro Lobato = retratou a miséria dos moradores do interior do sudeste e a decadência da economia cafeeira.
Graça Aranha = retratou a imigração alemã no Espírito Santo.
Augusto  dos  Anjos  *  =  apresenta  uma  classificação problemática, não podendo ser apenas estudado como um autor pré-modernista. Sua obra apresenta elementos de várias estéticas. Mas para fins didáticos costuma-se estudá-lo como pré-modernista.

Euclides da Cunha era engenheiro, mas se destacou no cenário brasileiro do começo do século XX como escritor.

Euclides  da  Cunha  também  era  jornalista  e  foi  mandado  a Canudos, na Bahia  como  correspondente do  jornal  “O Estado de São Paulo”, com a  tarefa de  registrar as operações do exército na  revolta baiana.

A Guerra de Canudos será o tema principal de seu livro mais famoso: Os Sertões.

O Livro Os Sertões é um livro que se localiza entre a sociologia e a literatura, tamanha a riqueza de detalhes e a preocupação em retratar a realidade da maneira em que ela se apresentava.

Os  Sertões  é  uma  das  primeiras  obras  a  romper  com  a  visão romântica do Brasil enquanto terra paradisíaca. Nesse livro, Euclides daCunha  construiu  uma  espécie  de  narrativa  negativa  de  um  povo
massacrado  pela miséria  e  pela  injustiça  social.  Segundo  o  autor,  a realidade  da  guerra  era  muito diferente  da  que  o  governo  dizia. Aparentemente  o motivo  desencadeador  da  revolta  foi  o  fanatismo religioso e o cangaço, mas na realidade os profundos motivos foram o istema latifundiário, a servidão e o abandono social da região.

O  livro  está  dividido  em  três  partes:  na  primeira,  Euclides descreve  a  terra,  o  cenário  em  que  se  desenvolverá  o  enredo;  no segundo, o autor faz uma descrição do homem, explicando a origem dos
jagunços e cangaceiros. Destaca-se nesse momento a descrição do líder do movimento, Antônio Conselheiro. Na  terceira parte, encontra-se a grande  talvez  a  maior  riqueza  do  livro,  nela  Euclides  da  Cunha
apresenta o conflito em si. Somente depois de várias expedições é que os revoltados são vencidos. Dos mais de 20 mil brasileiros em Canudos, restaram  apenas  4:  um  velho,  dois  homens  feitos  e  uma  criança  na
frente de um exército de 5 mil homens.

Veja um outro importante autor pré-modernista:

Lima Barreto teve uma vida muito atribulada, principalmente por ser pobre e negro,  numa  época  marcada  por  várias  formas  de  preconceito.  Ao  contrário  deMachado  de  Assis,  que  alcançou  a  notoriedade ainda  em  vida,  Lima  Barreto  sofreu muito  com  o  preconceito  racial,  com  o  alcoolismo  e  com  as  freqüentes  crises depressivas.

Lima  Barreto,  sentindo as dores do preconceito e da pobreza, mostrou  grande  identificação  com  as pessoas  marginalizadas  da sociedade da época, com as quais sempre conviveu. Sua obra é uma literatura sobre  o  povo  e  para  o  povo,  seus  textos  apresentam  uma linguagem simples e direta, assemelhando-se à linguagem jornalística, panfletária. O que lhe causou muitas críticas.

Lima Barreto soube como nenhum outro pré-modernista retratar com muito  realismo a vida dos subúrbios cariocas e as desigualdades sociais do Rio de janeiro do  início do século XX, uma época de grande desenvolvimento e transformações.

Entre seus livros mais conhecidos está Triste Fim de Policarpo Quaresma. Nesse  romance  narrado  em  terceira  pessoa,  através  de uma  forte  carga  humorística,  Lima Barreto  conta  a  história  do Major Policarpo Quaresma. O livro é uma caricatura da vida política brasileira no período posterior à proclamação da República.

Policarpo Quaresma é um fanático, uma espécie de Dom Quixote brasileiro.  Possuidor  de  um  nacionalismo  extremo,  Quaresma  tenta evitar a todo custo a influência da cultura européia na cultura brasileira.

Entre  suas  várias  tentativas  de  preservar  a  cultura  nacional  o major chega a escrever uma carta ao Congresso Nacional. Veja com que objetivo:

      “Policarpo Quaresma, cidadão brasileiro, funcionário público, certo de que a  língua portuguesa é emprestada ao Brasil; certo  também de que, por este fato, o falar e o escrever em geral, sobretudo no campo das letras, se vêem na humilhante contingência de sofrer continuamente censuras  ásperas  dos  proprietários  do  língua;  sabendo,  além,  que, dentro de nosso país, os escritores, com especialidade os gramáticos, não  se entendem  no  tocante  à  correção  gramatical,  vendo-se, diariamente,  surgir  azedas  polêmicas  entre  os    mais  profundos estudiosos  do  nosso  idioma,  usando  o  direito  que  lhe  confere  a Constituição,  vem  pedir  que  o  Congresso  Nacional  decrete  o  tupi-guarani como língua oficial e nacional do povo brasileiro”.

Depois de muita confusão Quaresma é  internado como  louco. Ao sair do hospício seu nacionalismo parece ter diminuído um pouco, mas se lança em outra batalha, desejava reformar a agricultura do país.

Veja outro conhecido autor do pré-modernismo brasileiro:

Monteiro Lobato  foi  uma  figura muito  polêmica,  ao  contrário  da  impressão que a maioria das pessoas tem hoje a seu respeito. Hoje, falar em Lobato é lembrar do escritor de  livros  infantis e  criador do Sítio do Pica-pau Amarelo, mas  sua produção não se limita a esse gênero.

Monteiro Lobato  foi um escritor que  retratou como ninguém o atraso das regiões interioranas de São Paulo. Ele foi o criador de um dos símbolos do atraso e da ignorância do caipira. Ele é o criador da figura
do Jeca Tatu.

Lobato tinha um gênio muito forte, desde criança mostro-se rebelde.  Foi  um  dos  primeiros  a  dizer  que  havia  petróleo  em  terras brasileiras, chegando a ser preso por isso, durante o período da ditadura militar. Seu jeito explosivo foi responsável por um dos motivadores do movimento  modernista.  Monteiro  Lobato,  num  artigo  intitulado “Paranóia ou mistificação?”, faz duras críticas ao trabalho modernista da pintora Anita Malfatti.

Veja o tom de suas palavras:
      “Há  duas  espécies  de  artistas.  Uma  composta  dos  que  vêem normalmente as coisas e em conseqüência fazem arte pura, guardados os  eternos  ritmos  da  vida,  e  adotados,  para  a  concretização  das emoções estéticas, os processos clássicos dos grandes mestres (...) A  outra  espécie  é  formada  dos  que  vêem  anormalmente  a natureza  e  a  interpretam  à  luz  de  teorias  efêmeras,  sob  a  sugestão estrábica excessiva. São produtos do cansaço e do sadismo de todos os períodos  de  decadência;  são  frutos  de  fim  de  estação,  bichados  ao nascedoiro  (...) Embora eles  se dêem  como novos precursores duma arte a vir, nada é mais velho do que a arte anormal ou  teratológica:
nasceu  com  a  paranóia  e  com  a mistificação  (...)  Sejamos  sinceros; futurismo, cubismo, impressionismo e tutti quanti não passam de outros tantos ramos da arte caricatural (...)”

Graça Aranha  é  o  autor  de Canaã,  que  juntamente  com  Os Sertões,  dá  início  ao  Pré-Modernismo  brasileiro.  Nessa  obra  Graça Aranha narra o processo de colonização alemã no Espírito Santo.

Augusto  dos  Anjos,  como  já  foi  visto,  apresenta  uma classificação  problemática.  Ele  era  conhecido  como  o  autor  do pessimismo, do mau gosto, do escarro e dos vermes.
Veja um de seus textos:

     Psicologia de um vencido

Eu, filho do carbono e do amoníaco,
Monstro de escuridão e rutilância,
Sofro, desde a epigênese da infância,
A influência má dos signos do zodíaco.
Profundissimamente hipocondríaco,
Este ambiente me causa repugnância...
Sobe-me à boca uma ânsia análoga à ânsia
Que se escapa da boca de um cardíaco.
Já o verme – este operário das ruínas –
Que o sangue podre das carnificinas
Come e à vida em geral declara guerra,
Anda a espreitar meus olhos para roê-los,
E há de deixar-me apenas os cabelos,
Na frialdade inorgânica da terra!

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